quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Grandes Decisões: Resoluções para 2012



Não tenho a menor dúvida: à medida em que a idade avança, o tempo passa mais depressa. Quando eu era criança, as semanas eram eternas. As férias, deliciosamente intermináveis. Ao final de cada dia, parecia que eu ia dormir tendo vivido uma eternidade entre o nascer e o pôr do Sol.

Hoje, não. Chego ao final de dezembro perguntando-me quando foi que terminou janeiro... E, ao mesmo tempo, chego cheio de novos pedidos, esperanças e promessas para um ano que, certamente, será curto demais para tudo o que espero dele.

De qualquer modo, aqui está meu desejo para 2012 (aquele que, acreditam alguns, será o ano do fim do tempos): desejo um ano de grandes decisões. "Decidir" vem do latim decidere, "DE-, “fora”, + CAEDERE, “cortar” 1. Decidir, portanto, é o mesmo que "cortar fora", "romper".

Não, não proponho revoluções de nenhum tipo. Não sugiro que nos retiremos do mundo para recomeçar tudo do zero. Não. Sugiro apenas deixar no passado o que a ele pertence - sem negá-lo, sem dele zombar - para nos focarmos no que está por vir, para que tenhamos, amanhã, um presente e um futuro melhores do que temos hoje.

Sugiro que olhemos mais para o que falta ser feito, do que para o que foi. Sugiro que tenhamos a coragem de olhar para a frente, mais do que para trás. Sim, o que ficou para trás é parte do que nos tornamos e não pode ser renegado - não importa quão bom nem quão ruim seja, nem quanto orgulho ou quanta vergonha dele tenhamos. "'Passado', (...) vem do Latim passare, “passar”, de passus, “passo”. É uma analogia que se fez entre o tempo e uma caminhada." 2. E não dá para dar passos adiante, com os olhos virado para trás.

Decidamos, pois. Decidamos, como pessoas, como sociedade, como país, que vamos andar para frente, e deixar para trás um passado que, bem, já passou.

Sim, somos um país com corruptos há meio milênio. Mas podemos não ser. Sim, somos desorganizados e rudes. Mas podemos não ser. Somos alegres e cortezes, mas acomodados e resignados. Podemos não ser. Não importa o que somos hoje, podemos ser melhores amanhã.

E, do mesmo modo, nossas vitórias de ontem podem não nos manter no topo eternamente. Fomos pentacampeões de futebol. Mas podemos não ser campeões na próxima. Fomos aplaudidos ontem, mas podemos ser vaiados amanhã. Podemos, sim, ser condenados por um único erro, não importa quantos acertos tenham sido feitos antes ou depois dele.

Para 2012, eu torço para que paremos de reclamar do que foi, das culpas de fulano ou de beltrano, das incompetências de Maria ou de João. Torço para decidirmos construir, em vez de reclamar daquilo que destruiram ou deixaram de construir. Torço para que façamos, um pouquinho a cada dia, aquilo que pode ser feito para sermos melhores pais, melhores profissionais, melhores amigos, maridos, cidadãos. E, caramba, como há coisa a se fazer!

Desejo que 2012 seja aquele ano em que finalmente se faça aquela viagem dos sonhos - para que outra viagem dos sonhos possa surgir. Desejo que finalmente encontremos aqueles amigos de infância que há tempos juramos que vamos encontrar na semana-que-vem-que-nunca-chega. Desejo que finalmente se largue aquele emprego que se odeia, para se fazer o que realmente se quer. Ou então, que se ache aquele emprego - qualquer que seja - do qual tanto se precisa para recomeçar.

Desejo que o urgente dê tempo para nos dedicarmos também ao que é apenas importante. Curiosa e tristemente, a família, os amigos, os hobbies, costumam estar na segunda categoria, sem que se saiba bem o porquê.

Desejo que as feridas que por ventura ainda estejam abertas se fechem de uma vez e deixem cicatrizes que, mesmo visíveis, não causem dor. E desejo que aqueles que ainda as têm, em pouco tempo se deem conta de que não há mais ferida alguma.

Desejo que se perdoe o que pode ser perdoado. E o que não pode, desejo que se jogue no baú das memórias empoeiradas, que pouca importância têm quando se olha para trás, e que se perdem com o tempo, no esquecimento.

Desejo que as marcas do tempo no rosto, os cabelos brancos e as gordurinhas que teimam em não sair sejam nossas companheiras, que nos lembram que nada é perfeito, nem eterno. Nem mesmo eu.

Desejo que mais pessoas possam viajar à Disney, a Buenos Aires ou a Paris. Mas também desejo que mais pessoas possam comer pelo menos uma refeição decente todos os dias. Desejo que mais pessoas possam comprar TVs Full-HD de LED e som surround. Mas também desejo que mais pessoas aprendam a ler e a somar.

Desejo que mais pessoas possam entrar no Facebook para encontrar gente querida que se perdeu pelo caminho. Mas também desejo que menos pessoas se percam pelo caminho, e que novas pessoas apareçam nele, sem que seja necessário o Facebook.

Desejo que finalmente os homens entendam que as mulheres adoram dançar, adoram filmes românticos e adoram que eles cozinhem - mesmo que fique ruim. E desejo que elas finalmente entendam que se eles não respondem a uma pergunta enquanto assistem à TV, não é porque não gostam delas, nem porque não prestam atenção. É só porque são homens, mesmo. Apenas homens.

Desejo que os filhos tenham menos vergonha dos pais e dos avós. E que os pais façam menos esforço para parecerem irmãos dos seus filhos.

Desejo um ano cheio de festas, música e fogos. Mas também cheio de silêncio e olhos fechados.

Desejo que mais gente recicle o lixo, que usemos menos detergente e que liguemos menos o carro para ir só até ali. Mas também desejo que menos energia seja gasta para transportar leite orgânico que vai ser armazenado em um freezer sem porta; ou gasta para construir bonecas descartáveis para crianças que as ganham no Natal e as esquecem antes do Ano Novo. Desejo que crianças sem brinquedo algum possam, magicamente, continuar a acreditar em Papai Noel e Coelhinho da Páscoa, graças à boa vontade de quem acha que nem tudo está perdido para elas. Nem para nós.

Desejo que os Maias e que Hollywood estejam errados, e que em 2012 não seja o fim dos tempos. E desejo que os fatalistas de plantão, vivinhos, arrumem uma nova data para o Apocalipse - de preferência uma data próxima, para podermos voltar a nos divertir com um novo engano. E desejo também que mais pessoas acreditem que o mundo, na verdade, não acaba; quem acaba somos nós - assim como as mais de 99% das espécies que viveram até hoje no planeta, e que estão extintas. A maioria delas, independetemente de nós - e do nosso suposto, mas equivocado, poder de alterar o curso da história e da vida.

Não me interessa quando será o fim do mundo. Não me interessa nem um pouco. Me interessa saber que, quando ele chegar, se ainda estivermos aqui, tenhamos feito o melhor que podíamos fazer. Com erros, é verdade, mas também com acertos. Os segundos, espero, em maior número e com maior importância do que os primeiros - em geral, fruto de decidir o que precisa ser decidido, e fazer o que precisa ser feito.

Feliz 2012.

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1. site Origam de Palavra - http://origemdapalavra.com.br/palavras/decisao/
2. site Origem da Palavra - http://origemdapalavra.com.br/palavras/passado/

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